uma tragédia anunciada (em redes sociais). as cenas de destruição na sede dos três poderes, em Brasília, são de chorar. vai levar tempo até que o estrago possa ser medido e mais tempo ainda até que ele seja parcialmente reparado – “parcialmente” é o máximo que podemos esperar. as dicas de hoje não são sobre política, mas sobre a tentativa de lidar com episódios da vida que nos mudam para sempre – como o último domingo. se você não mudou nadinha, procure um médico.
🧽🧽 Facing what's left behind • All There Is | neste programa, o Anderson Cooper – um jornalista e apresentador americano famosíssimo – narra a jornada dele para lidar com o luto depois da morte da mãe, a estilista e atriz Gloria Vanderbilt. no primeiro episódio, ele compartilha gravações que fez enquanto ia ao apartamento da mãe para lidar com o que ela deixou para trás – roupas, pertences, documentos e memórias do pai e do irmão do Alex, que morreram há anos. eu senti que esses 33 minutos capturam muito bem a solidão e a beleza do luto. eu estou ouvindo a série inteira e gostando muito (o segundo episódio 🧡), mas recomendo que você comece pelo começo.
ouça aqui 🎧 (33min)
ps: se você escutar o episódio e sentir curiosidade sobre as casas da Gloria Vanderbilt, dá uma olhada nesta galeria da Vogue.
🧽🧽🧽 The many deaths of a painting • 99% Invisible | esse é um dos episódios de podcast que eu lembro exatamente onde eu estava e o que eu estava fazendo quando ouvi. e ele me marcou pelo seguinte: um anos atrás, eu morei em Amsterdam, na Holanda. e minha parte preferida da cidade eram os museus. num deles, dedicado à arte contemporânea, morava um quadro enorme todo azul que me hipnotizou. eu não sabia nada sobre o pintor além do nome dele, escrito na plaquinha do lado do quadro: Barnett Newman. esse museu estava cheio de obras que despertam aquele sentimento clássico: “até eu faria isso, poxa!". sim… mas não fez. eu gosto dessa sensação, mas tem gente que sente raiva desse tipo de arte. enfim… um dia, anos depois, eu estava na cozinha da minha casa fazendo almoço enquanto ouvia esse episódio do 99% Invisible – um podcast sobre design – que falava de um quadro que tinha sido esfaqueado. não era o quadro azul, mas um outro do mesmo pintor, todo vermelho. eu queria muito ter ouvido a história do atentado e o que foi feito para reparar o dano antes de ter visto aqueles dois quadros ao vivo – o azul e o vermelho. vendo a destruição das obras de arte no último domingo, eu lembrei desse episódio. principalmente porque, depois de ouvir ele, eu senti que aqueles quadros gigantes tomados por uma única cor que me hipnotizaram ganharam uma outra textura. e mais valor. eu espero que, diante dessa tragédia, a gente no mínimo pare um pouco pra pensar no valor daquilo que nos foi tirado.
ouça aqui 🎧 (40min)
alguma outra coisa…
obrigada por ler.
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Natália Silva | jornalista e produtora do Rádio Novelo Apresenta