era um domingo de sol, no meio da tarde, quando correu a notícia. eu fiquei sabendo por um print enviado num grupo de Whatsapp de amigas jornalistas.
eu ainda tava nos EUA quando aquele debate doloroso, em que o Joe Biden mal conseguia terminar os raciocínios, aconteceu. entre os meus amigos progressistas, o dia seguinte foi uma mistura de constrangimento e pânico. não ajudou o NYTimes ter publicado um editorial pedindo pra que Biden desistisse. Biden bateu o pé e tentou aparecer em público com mais vigor. foi inócuo. só se falava de como ele está velho.
já havia meses que comentaristas políticos mostravam preocupação com o envelhecimento de Joe Biden, de 81 anos. um dos primeiros a dizer que ele não era mais um oponente a altura de Trump foi o comentarista político do NYT Ezra Klein, em fevereiro de 2024. Trump tem 78 anos, é verdade. mas mente com vigor.
aí… em 13 de julho, durante um comício, Trump sofreu o atentado – que contribuiu pra cristalizar de vez a imagem de um homem forte. o Jornal Nacional fez uma reportagem bastante longa comparando a foto em que Trump aparece como punho em riste e o rosto riscado de sangue com a bandeira dos Estados Unidos ao fundo com pinturas icônicas, como essa encomendada por Napoleão Bonaparte. agora, só se falava de como Trump era um sobrevivente.
até que chegou o dia em que eu recebi aquela mensagem. minha amiga escreveu “dei uma engasgada aqui". uma eleição que parecia lamentavelmente definida virou de ponta cabeça. o NYT publicou um novo editorial, agradecendo a coragem de Biden. enquanto escrevo, só se fala da ascensão de Kamala Harris nas pesquisas.
vendo tudo isso, fiquei pensando em como é bom ser negacionista. quando finalmente o teimoso dá o braço a torcer, o alívio de quem tentou de todos as formas avisar de que o caminho estava errado é tanto, que o pecado original é quase instantanemanete perdoado.
duvida? substitua o atual presidente americano por qualquer político teimoso e veja como o resultado redentor é sempre o mesmo. foi assim que bolsonaristas arrependidos conseguem conquistar mais simpatia da esquerda do que candidados social democratas.
de todo modo… thanks, Biden.
vamos as dicas de hoje, um misto de política, comportamento e – claro – teimosia.
eu vi
acabei de ver a terceira temporada de Hacks, que recomendei aqui. vou reforçar: assistam, o final é delicioso.
finalmente eu consegui assistir Anatomia de uma Queda. o uso da trilha na cena de abertura do filme é genial. e aquele cachorro com certeza é mais esperto do que certos candidatos a prefeitura de São Paulo.
fui ao cinema ver Pequenas Cartas Obscenas e achei divertidíssimo. o tipo de história que eu adoraria ter descoberto pra contar no Rádio Novelo Apresenta.
eu li
esta reportagem da New York Times Magazine sobre as figuras que mantém o Bolsonarismo vivo, vivo, muito vivo e seguindo os passos do Trumpismo (com direito a uma ilustração do Cristo Redentor usando o boné do Make America Great Again).
re-li, no caso, um ensaio brilhante que o Luigi Mazza escreveu na revista piauí sobre o Caetanismo – um movimento espontâneo de idolatria do cantor oitentão. eu voltei ao texto quando vi o bafafá que rolou depois que o Caetano cantou um louvor no show da turnê com a irmã, Maria Bethânia. basta prestar atenção no zumzumzum neste vídeo pra ver que a plateia não gostou foi nada. teve gente atacando o cantor em redes sociais, outros defendendo. um lado dizia que o Caetano quer “dialogar” com os evangélicos. outro dizia que ele quer, na verdade, dialogar com a esquerda que o aplaude e lembrá-los de que o Brasil é o um país religiosíssimo. todas as explicações embocam numa só coisa: o tal Caetanismo. nessa treta, eu fico com a lucidez do Luigi.
eu ouvi
o Ezra Klein falando neste episódio do podcast Search Engine sobre como foi ser um dos primeiros a dizer “Biden, na boa… vai pra casa, amigo". no fim da entrevista, fiquei encucada se nossos comentaristas políticos seriam melhores se também usassem menos das redes sociais.
a série Reinventando a Natureza, um dos frutos do Camp Serrapilheira 2023, sobre como o mundo mudou com a invenção e aprimoramento da fertilização in-vitro. o primeiro episódio me fisgou ao mostrar como essa tecnologia foi instrumentalizada por quem quer arrancar dinheiro de um sonho muito legítimo: ter um filho biológico.
obrigada por ler! 💌
Natália Silva | jornalista e editora executiva da Rádio Novelo
É sempre um presente acompanhar o Radinho, obrigada Nath!
O link do NYT Magazine aparece como quebrado pra mim